Altas Habilidades e SuperdotaçãoDireito à educação

ELE É SUPERDOTADO, E DAÍ?

Por Claudia Tozzini Barretto, mãe, escritora do livro "Ele é superdotado, e daí?, desafios e triunfos na jornada da Superdotação.

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E foi com esse título acima que eu publiquei um livro em 2014.
E agora estou aqui, após receber um convite especial da Cilene Cardoso, para escrever um relato de experiência com a Superdotação para o Portal Crianças Especiais. Essa solicitação foi a mim direcionada para que eu que pudesse dar meu depoimento com relação à experiência vivida com meu filho, que teve sua Superdotação identificada apenas aos 14 anos de idade.

O livro

Para quem não conhece, escrevi o livro para mostrar toda a fragilidade do nosso atual sistema de ensino e o que isso pode acarretar aos estudantes com Altas Habilidades/Superdotação. O motivo principal do livro foi um “desabafo” no qual poderia, com exemplos reais, expor o que se passa em boa parte das escolas brasileiras.

Com uma Superdotação Criativo-Produtiva, enfrentamos diversos problemas com as escolas que não o  estimulam o suficiente. Não havia reconhecimento e nem apoio quando algo era bem feito. Como os professores não sabiam como lidar com sua curiosidade, com sua vivacidade e também agitação, diziam que ele era uma criança problemática. Em nenhum momento da nossa trajetória foi levantada a hipótese de ser apenas uma criança superdotada que estava vivenciando e explorando a sua criatividade. E isso aconteceu nas quatro escolas que frequentou.

Tivemos que fazer essas trocas de escola na esperança de encontrarmos um local que pudesse acolher  eu filho e onde ele pudesse desenvolver plenamente suas capacidades. É importante ressaltar que uma pessoa superdotada situa-se acima da média em relação a alguma habilidade relevante que desenvolva, mas não significa que, necessariamente, ela tenha um desempenho escolar exemplar em todas as matérias ou mesmo que seja brilhante em tudo o que fizer. Na grande maioria das vezes, tentamos dialogar com as escolas, pedindo compreensão e apoio, mas nossa batalha foi grande e todos os exemplos serviram para que eu pudesse escrever o livro. E o que nossa experiência nos fez perceber? Que todos os alunos são tratados da mesma forma, com desprezo de sua individualidade, e são submetidos à mesma árdua e triste rotina escolar, não importando se isso irá comprometer seu futuro.

Divisor de águas

Receber o relatório atestando as Altas Habilidades do meu filho foi um divisor de águas, mesmo que tivesse 14 anos à época. Foi como se um grande peso tivesse sido retirado dos nossos ombros. Respiramos aliviados. Saber que ele era superdotado simplesmente respondeu a muitos de nossos questionamentos. Isso fez com que entendêssemos o que se passava com ele.

Entretanto, a compreensão da condição foi absolutamente esclarecedora naquele momento. Por outro lado, não tivemos ou recebemos a mesma compreensão da escola. Sentimos que a escola não estava preparada e não sabia como proceder daquele momento em diante. E é aí que entra a importância fundamental de termos profissionais capacitados para lidar com essas crianças e jovens. Por um longo tempo meu filho foi visto como uma criança muito agitada e, por vezes, até hiperativo. Desde muito pequeno demonstrava uma curiosidade muito grande e sempre buscava descobrir algo diferente. Limitá-lo em seu desempenho durante sua vida escolar acabou criando uma série de dificuldades para ele e para nós.

O fato de ter sido identificado com Superdotação/Altas Habilidades não poupou meu filho, e muito menos nossa família, da sensação de impotência frente aos modelos educacionais atuais. No livro, conto nossa trajetória destacando nossa experiência pessoal com exemplos e depoimentos de pessoas que ajudaram a construir nossa história.

A identificação

A identificação da Superdotação/Altas Habilidades é de suma importância para crianças e jovens. Até mesmo para os adultos, pois acabam se beneficiando e tendo uma melhor qualidade de vida. As pessoas se reconhecem em suas singularidades e podem melhorar consideravelmente suas vidas. Todos passam a entender a forma como agem e reagem a diversos estímulos. No caso das crianças, a família desempenha um papel primordial nesse processo, uma vez que, compreendendo sua condição, poderá ajudá-las em seu desenvolvimento geral e também acolhê-las emocionalmente, fator preponderante na vida dessas pessoas.

E a demora na identificação causa prejuízos muitas vezes traumáticos para essas crianças. Infelizmente a Superdotação não é vista e nem reconhecida no ambiente escolar. Acredito mesmo que haja falta de preparo dos profissionais. Ainda é um assunto invisível. Seria mais adequado, em primeiro lugar, que as escolas buscassem se aprimorar, que seus profissionais fossem devidamente capacitados para lidar com essas crianças e jovens. Esse já seria um grande passo para melhorar essa situação e ajudar tantas pessoas invisibilizadas em sua condição.

Contudo, ao escrever o livro, tive a intenção de contribuir para um novo olhar e uma reflexão mais detalhada com relação à forma diferenciada de aprendizagem das crianças e adolescentes superdotados. Esse olhar também precisa ser observado em casa, dentro do âmbito familiar.

Por fim, a família desempenha um papel preponderantemente definitivo para o acolhimento de todos os indivíduos que apresentam um talento diferenciado e um potencial superior. Que estejamos atentos para apoiar essas pessoas tão especiais e sensíveis!

 

Curadoria: Cilene Cardoso do Grupo Crescer Feliz
Claudia Tozzini Barretto ( @ele_e_superdotado_e_dai )
Janeiro/2024
e-mail : [email protected]
www.tozzinibarretto.com.br

 

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