Transtorno do Espectro Autista (TEA)

A Educação Física na Inclusão de crianças com autismo no Ensino Infantil

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Estudos recentes evidenciam que o diagnóstico precoce é importantíssimo para a criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA), com ele a escola pode iniciar junto aos terapeutas e a família uma intervenção o mais cedo possível. Com a intervenção precoce aumentamos consideravelmente a probabilidade de um prognóstico melhor da pessoa com autismo em sua fase adulta. 

Com esse diagnóstico sendo definido nos primeiros anos de vida pelos profissionais especializados, nos deparamos com um aparente aumento de crianças dentro do espectro autista em nossas escolas e creches, e todas elas necessitam e tem por direito uma inclusão de qualidade. Acredito que estamos caminhando neste sentido, mas será que já estamos prontos na Educação Infantil para intervir e colaborar para a inclusão destas crianças com TEA? Acredito que já deixamos para trás aquela ideia confusa de inclusão de apenas manter a criança no mesmo ambiente que as demais ou simplesmente entretê-la com um brinquedo a fim de não “atrapalhar” as aulas. Hoje aceitamos como incluso somente se este aluno realiza as atividades junto as demais crianças, mesmo que com adaptações, e usufruiu de todos os benefícios do aprendizado, convivência e prática destas atividades. Para tanto devemos dominar métodos adequados de ensino que deem a todos as possibilidades de sucesso. 

A Educação Infantil tem uma grande importância no desenvolvimento das crianças em geral, e não é diferente quando falamos de crianças dentro do espectro, podemos desenvolver habilidades cognitivas, afetivas e sociais. É dentro da escola que muitas destas crianças são expostas pela primeira vez a regras de convivência, rotina e diversos outros desafios sociais extremamente complexos para alguém com TEA. Se observarmos atentamente, tais exigências ficam ainda mais exacerbadas durante as aulas de Educação Física. O ambiente muitas vezes caótico das aulas se apresentam com suas mudanças constantes de organização, mudanças de materiais, alternância de objetivos, sem contar o fato de que na Educação Física as interações sociais são inevitáveis. Os alunos com TEA terão que aprender a lidar com um ambiente constantemente modificado por seus colegas, que invadirão seu “espaço” e o forçarão a ter novas experiências e essas experiências serão também constantemente afetadas pelos outros.

Conhecer sobre Educação Física e o Transtorno do Espectro Autista é fundamental, porém apenas dominar os conceitos e ou conhecer as características não garantem sucesso no processo de inclusão. Se não dominarmos os procedimentos adequados de manejo e tecnologia de ensino todo esse conhecimento não será de grande valia, ficaremos a mercê da sorte e de procedimentos de ensino baseados apenas em senso comum.

As dificuldades em estruturar o ambiente por parte da escola juntamente com as dificuldades sensoriais, comportamentais e de interação social muito comuns na população com autismo criam frequentemente uma “barreira”, que dificulta ou em casos mais graves até impede a execução das atividades propostas pelo professor de Educação Física e a tão desejada inclusão.

Podemos orientar nossas aulas pela psicomotricidade objetivando por exemplo suprir déficits no controle de tônus, de equilíbrio ou de coordenação motora, todos comorbidades frequentemente associadas ao diagnóstico, porém se quisermos ter sucesso e superar essa “barreira” ambiental devemos nos orientar por evidências, pela ciência. As práticas baseadas em Análise do Comportamento Aplicada (ABA) são as que mais tem se mostrado eficaz até hoje, tanto no contexto terapêutico como de ensino. 

Conhecendo a ciência ABA podemos dentro do contexto da aula de educação física ampliar interesses que antes eram restritos, desenvolver nas crianças habilidades de atenção, imitação, linguagem receptiva e ainda manejar comportamentos, reforçando os adequados e extinguindo os inadequados. Se pensarmos no aluno em uma situação, mesmo que ainda rara em nossas escolas, com acompanhamento terapêutico igualmente baseado em ABA, trabalhando em parceria conosco e com supervisão adequada, as aulas de educação física podem também contribuir na generalização das habilidades adquiridas no contexto terapêutico, tudo isso em um ambiente natural para a criança.

Outro fator fundamental para a inclusão que não devemos desdenhar é a capacidade por muitas vezes limitada de brincar destas crianças. Esta dificuldade dificulta sua interação com as outras crianças da mesma idade e consequentemente as relações de amizade.

A Educação Infantil e especialmente o professor de Educação Física pode contribuir também neste aspecto. Quando falamos de Educação física no Ensino Infantil, falamos necessariamente de “Brincar”, e mesmo que alguns pais não reconheçam o valor da brincadeira, nós da educação sabemos e valorizamos sua importância no desenvolvimento das crianças em geral incluindo as com TEA. Aprender a brincar é determinante para o sucesso da inclusão pois é brincando que as crianças aprendem a explorar o mundo, criam suas relações sociais, organizam suas emoções e desenvolvem sua autonomia. Entretanto durante a infância, as crianças com autismo, ao contrário da maioria, não adquirem esse repertório social naturalmente. Na maior parte das vezes, necessitarão de um planejamento, mediação do professor e estruturação para aumentarmos as chances de ocorrer a aprendizagem. 

Devemos subdividir o repertório de brincar em habilidades ou grupos de habilidades e tendo como base também a ciência da Análise do Comportamento Aplicada, ensinar cada uma destas habilidades em déficit até que a criança aprenda a brincar adequadamente e esteja pronta para brincadeiras compartilhadas, sem necessidade de mediação ou qualquer outro auxílio. 

O brincar parece simples, entretanto consiste em um repertório bastante complexo formado por algumas habilidades, serem submetidas ao um ensino estruturado, onde treinamos separadamente cada habilidade ou grupo de habilidades. Não é um procedimento simples, todavia só assim poderemos garantir o aprendizado e a essencial manutenção deste aprendizado, confirmando que as habilidades foram realmente adquiridas. 

O treino de brincar é um importante aliado na intervenção com crianças dentro do espectro autista, pois aumenta a probabilidade de inclusão das crianças com autismo no ambiente escolar e em outros ambientes coletivos e pode contribuir de maneira decisiva na interação com crianças neurotípicas.

Aprendendo a brincar como os demais, estas crianças terão mais chances de interagir, pois participarão ativamente de momentos de interação, como no recreio, no parquinho ou em outros momentos livres dentro da escola.

Texto elaborado por: Prof. Alexandre Melo cedido ao Portal Crianças Especiais

Mais informações: [email protected]

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